ainda não acabei
existe um certo maquinismo
na vivência humana
pessoas são engrenagens,
parafusos, porcas e
todo o resto que não me cabe conhecer.
estes garantem
o bom
funcionamento
disso que não ouso
compreender
sentado com as pernas penduradas na sacada
do último andar de um prédio qualquer
(mais um na cidade)
eu pude ver
por todas as ruas
carros
pessoas
correndo...
como se o dia fosse acabar
em dez minutos;
como se
a vida
fosse.
quando deslocado
dessa máquina
tudo que há nela parece premeditado:
as paixões
a família
a amizade
o mendigo no chão deitado
(existem setores defeituosos:
os agentes correm para
reinserir
a porca no seu devido lugar)
e as pessoas costumam dizer
"isso é viver"
ter um emprego,
conquistar diplomas,
crer em Deus,
constituir família...
viver, portanto,
parece se sujeitar
a sustentar uma estrutura
a qual não se
escolhe
fazer parte.
talvez, aqui sentado na sacada
eu esteja esperando uma brisa
FORTE
que me derrube de volta
ao meu lugar nessa máquina,
pois sinto que me perdi.
OBS: O título se refere à constante construção, a infinitude das coisas, não quer dizer que o poema está incompleto.
OBS1: O poema aparece também no livro "Enlevo" do autor Adalberto Moretti Brito, que aqui escreve como Carlos Cortêz.