ainda não acabei

existe um certo maquinismo

na vivência humana

pessoas são engrenagens,

parafusos, porcas e

todo o resto que não me cabe conhecer.

estes garantem

o bom

funcionamento

disso que não ouso

compreender

sentado com as pernas penduradas na sacada

do último andar de um prédio qualquer

(mais um na cidade)

eu pude ver

por todas as ruas

carros

pessoas

correndo...

como se o dia fosse acabar

em dez minutos;

como se

a vida

fosse.

quando deslocado

dessa máquina

tudo que há nela parece premeditado:

as paixões

a família

a amizade

o mendigo no chão deitado

(existem setores defeituosos:

os agentes correm para

reinserir

a porca no seu devido lugar)

e as pessoas costumam dizer

"isso é viver"

ter um emprego,

conquistar diplomas,

crer em Deus,

constituir família...

viver, portanto,

parece se sujeitar

a sustentar uma estrutura

a qual não se

escolhe

fazer parte.

talvez, aqui sentado na sacada

eu esteja esperando uma brisa

FORTE

que me derrube de volta

ao meu lugar nessa máquina,

pois sinto que me perdi.

OBS: O título se refere à constante construção, a infinitude das coisas, não quer dizer que o poema está incompleto.

OBS1: O poema aparece também no livro "Enlevo" do autor Adalberto Moretti Brito, que aqui escreve como Carlos Cortêz.

Carlos Cortêz
Enviado por Carlos Cortêz em 17/07/2017
Código do texto: T6056885
Classificação de conteúdo: seguro