País do arco-íris
(Ao poeta Adão Ventura)
Jamais poderei sentir, na pele,
No cerne,
De verdade teu drama,
Amigo Negro.
Posso, quando muito,
Vagamente percebê-lo:
Nunca vou levar um tapa na cara
Por ser negro;
Nunca vou perder emprego – nem susto! –
Nem vão bater-me as portas
Na cara,
Somente por ser negro.
Dessa maneira,
Nossas distâncias são, talvez, intransponíveis:
Pra nos encontrarmos,
Pra nos compreendermos,
Talvez só nos compêndios,
Talvez só nas alturas,
No país dos arco-íris,
Onde todas as cores são bem-vindas.
(Pará de Minas, MG, 1988)