MARIA BONITA
Eu juro que eu vi
Porque eu estava lá
Sentado no bar
Tomando cachaça
A rua era de barro
E lá no fim
Brotando do chão
Um redemoinho se formou
Mais perto
E olhando bem
Vi que se tratava
Duma mulher nordestina
Ao colo levava uma menina
Atrás puxando sua saia
Dois meninos
Que esforçavam-se para acompanha-la
Chegaram perto
Pude vê-la com vestes rasgadas
Pele enrugada do sol
Faltando os dentes da frente
Olho verde
Que ora me olhava
Ora me evitava
Ofereci-lhe um copo de agua
Tomou-o a um só gole
Perguntei-lhe pelo nome
Se disse Maria Bonita
Perguntei-lhe o caminho
Viera da terra de Deus e o Diabo
Que o ultimo deixara para trás
Apontou para igreja
Que ficava no fim da rua
E saiu dizendo
Vou me encontrar com Deus
E assim se foi
Caminhando com os filhos
Levava
O barro do sertão agreste
Da porta da igreja
O padre esperava
Deu-lhes pao, agua e vinho
E que rezasse
Três Ave-Marias e um Padre Nosso;
Ela assim o fez
Que rezasse um terço
E assim foi feito
E agora, padre?
Que Deus a acompanhe
Você na Reclusao
Seus filhos no orfanato
Ao se ver separada dos filhos
Gritou
Oh, Deus?
Já não tem lugar pra mim!
Da terra de Deus e do Diabo
Do Agreste Sertão
Ouviu a voz do Pai
"Te entrega Corisco"
Mario Bonita
Nunca mais viu seus filhos
Mas respondeu:
"Eu não me entrego não"