SE PRECISAR CALÇO A MINHA BOTINA...
Passei a vida estudando para ser togado.
Sonhei com um futuro certo, fértil e próspero.
Não joguei bola, nem sinuca e nem xadrez.
Minha formatura foi meu dia histórico.
Meu passatempo foi aprender inglês.
Fiz doutorado, mas estou desempregado.
Aprendi que ter diploma era sinônimo de emprego.
A realidade não condiz com o meu aprendizado.
O governo promete muito em época de eleições.
O povo brasileiro ainda não sabe votar...
Neste momento, como eu, tem mais de dez milhões.
As manchetes dos jornais é só corrupção!
Tenho que almoçar, jantar, pagar as contas.
O meu diploma está dependurado na parede.
Já bati em mil e uma portas de empresas.
Algumas se mudaram, outras faliram.
Há uma fila imensa no hospital.
Nunca se vendeu tanto nas farmácias.
Tem gente se aproveitando da crise, vendendo jornal.
Estou à procura de qualquer serviço para matar a fome.
Quando a gente está sem dinheiro é mal visto.
Os amigos fogem e até em casa o convívio fica difícil.
Tudo que aprendi na escola não está dando certo.
Estou vivendo meu inferno astral.
Quem inventou a crise tinha que ser guilhotinado.
Meu grito está mudo, ninguém ouve a minha voz.
O meu filho quer brincar de bola no quintal.
Eu quero apenas trabalhar... Estou desesperado.
Se precisar calço a minha botina...
Quem precisar de um empregado é só me contratar.