A suntuosa Brasília, A esquálida Ceilândia, Contemplam-se. Qual delas falará primeiro? (Carlos Drumonnd de Andrade)
I
Já não contemplam-se
Brasília e Ceilândia!
Suntuosa e bela!
Arquitetônica! Moderna!
II
Mortos, restos, expostos,
Nordestes, oestes centrais!
Ao sol suntuosamente
Nos belos esgotos arquitetônicos!
III
Já não contemplam-se
Brasília e Ceilândia.
A Europa, a Ásia, a África!
A ONU, o mundo!
Contemplam-te!
IV
Ó Brasília de esplêndidos,
Escândalos, escandalosos!
De olhos espantados de vergonha
Já não contempla-te só Ceilândia
O Brasil dos sete cantos pasma.
V
O Brasil! O mundo!
Contemplam-te, ó Brasília!
Da moderna arte-coca és rota.
Trilha da morte, da máfia.
VI
Brasília! Encantadora! Esplêndida!
A sete do Brasil! Maravilha!
Já não contempla-te só Ceilândia.
O Cosmo ao ver-te enegrece.
VII
Mortos! Encantadoras crianças,
Belas faces da faceta miséria!
Moderna fome, esplêndida sete,
Oito, nove maravilhas do Brasil!
VIII
Ó Brasília que Ceilândia apagas!
Em suntuosos palácios mafiosos!
Belos e arquitetônicos roubos!
Surpreendentes e encantadoras fraudes!
És palco da corrupção nacional!
IX
Coloristes com tuas cores feias,
A brancura dos teus olhos.
O ouro do teu caráter cobreou
As matas. Matas. O azul enegreces!
X
És ilusão ainda! Fantasia!
Fantástico carnaval telúrico!
Fome, sede, morte e a vida
No carnaval da contemploliticação, são detalhes.