CERTAS PALAVRAS

Para que ir sozinho se posso ir com você

de braços dados até o sol nascer por detrás da montanha

se posso tomar sorvete e te deixar dar uma lambida

se é assim e assim será para sempre a vida

se nós juntos podemos fazer uma massa bruta

onde cada orelha de cada um tudo escuta

desde o rio que corre até o verso que morre

diante das novas combinações de palavras

aquelas que dizem tudo

e outras que dizem nada?

Para que caminhar sem lenço e sem documento

se a fronteira entre a calmaria e o vento

anda povoada por espantalhos de fardas

por homens-bomba que bombeiam o nada

para o dentro do sonho de cada um

e onde a poesia desmonta obuses

e outros dizem versos nenhum?

Como são lindas as pessoas nos retratos de família

rindo suas virtudes e suas bem-aventuradas ações

como belas as pessoas alimentando seus cães mais que filhos

como belas são as mãos que - na praça - distribuem milho

mais lindas são as pessoas enviando cestas básicas

à pessoas que vivem suas minúsculas vidas trágicas...

Para que deitar no papel palavras contaminadas

que assim em ventres do intelecto foram geradas

e servem ao descanso e ao arroto da alma

e nunca nunca nunca dizem - vá com calma?