A MÁSCARA

Põe a máscara, tira a máscara

põe a máscara, tira a máscara.

Soltou o cabelo e olha-se ao espelho.

Sou eu ou a máscara?

Já não se conhecia. Ninguém naquela casa se preocupa com o que faz ou deixa se fazer, com o que sente ou deixa de sentir.

Quantas páginas da sua vida desmembradas em silêncio. Sempre a viram sorrir.

Mulher, mãe, amante, irmã e amiga!

Desgastada, estende-se no leito e seu marido com brutalidade aperta-a contra o peito.

Um esgar de dor é substituído por um sorriso.

Põs a máscara... a última do dia.

Tira a máscara, põe a máscara

tira a máscara, põe a máscara.

Aproxima-se a hora do frente a frente na televisão em directo.

Endireita o nó da gravata e ensaia várias expressões em frente ao espelho. A sua boca abre-se num sorriso aberto. Sorrir, agrada ao povo, mais do que se faz ou do que se promete. E prometer não custa

nada... até é de graça!!!

Tem de vencer os adversários. Passar a mensagem só com a sua imagem.

Fazem-lhe um sinal, chegou a hora.

Pela décima vez repete o ensaio. Sorri e pensa pra si: Está perfeita! Esta sim. Foi mesmo feita para mim.

Põe a máscara, tira a máscara

põe a máscara, tira a máscara.

A estrada desta vida é um palco de teatro!

Nela, alguns de nós somos actores

alguns de nós somos palhaços.

Tira a máscara, põe a máscara

tira a máscara, põe a máscara.

Proliferam pelo mundo inteiro, cordeiros com máscara de lobos e muitos mais lobos mascarados de cordeiros. Sem máscara...existem

biliões de capuchinhos vermelhos.

quatro folhas
Enviado por quatro folhas em 05/08/2007
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