Anacrônicos
Anacrônicos,
Todos os anos,
Um bando de bestas anencéfalas,
Lançam seus trapos, qual serpentina,
Pelas ruas imundas da cidade.
Sem razão aparente,
Misturam suas carnes,
Em festa,
Aos restos de gente miúda,
Que se espalham,
Sem memória,
Pelas latrinas.
Mas nada disso importa,
O vapor insano do ópio
[se apoderou das ventas
[e arrebatou os sentidos.
Restou um corpo em confetes,
Misturado a tantos outros,
Absolutamente iguais,
Descompassando,
Num mesmo ritmo primitivo,
Quase tribal,
Mas sem propósito ou identidade.
E uma herança maldita:
Um país em escombros,
A miséria pelos cantos,
E o espanto, impotente,
De uma matilha de excluídos.