Flores de silêncio

Tentaram me calar com flores

Tentei falar, me viraram as costas.

Tentei gritar, se viraram em deboche.

Tentei argumentar, reviraram os olhos.

Mas hoje, me deram flores.

Ontem me deram espinhos

Jogaram pedras em meus caminhos

Abusaram do meu corpo, me cortaram com espinhos.

Mas hoje, tentam me silenciar com flores.

Calam minha boca com pano, com cano, com as mãos, com palavras, virando a cara.

Hoje querem ouvir “Obrigada, por essa flor dada”.

Ontem teve deboche, fui boba da corte por explanar meus cortes.

Sou histérica, sou puta, sou burra. Mas hoje me lembram que posso parir que vou parir e pra não me contrapor, me calam... Com flores.

Todos os anos querem me fazer esquecer a dor deste dia.

Tentaram nos calar com fogo, mal sabiam que dali, diamante sairia.

Todos os anos tentam me silenciar com flores, com mãe, com lagrimas. Com recato, com uma casa e pano de prato.

Não sou santa nem sou puta. Não sou flor. Sou espinho, sou minha, da alma a buceta. Sou perfeita, tenho voz, sou livre e você, só aceita.

Ralúsia Nunes

08/03/2017

Ralú Nunes
Enviado por Ralú Nunes em 08/03/2017
Reeditado em 08/03/2017
Código do texto: T5934375
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