Carnaval
Como acreditar?
Que um povo sofrido, calado
Roubado, ultrajado
Humilhado, desrespeitado
Com fome, injustiçado
Sem saúde, pobre
Na prisão da ignorância
Sem educação
Possa ocupar com alegria
Estourar na avenida, salões
Encharcar-se de bebida
Colorir-se e dançar
Tirar as roupas, ocultar as tristezas nas mascaras
Brincar de amar e ser amado
Cantar por um dia, uma noite
Pular um cordão,
Ir atrás do trio elétrico
Alucinada, incoerente, alienadamente,
Acrescente quanta mente quiser
Por que tudo mente
Nesta ilusão festejada por tradição
Uma festa que não é sua
Não é nata, é ingrata, pois mente
Farsante, desonesta por acoberta
Metas, promessas
De malandros, embusteiros, trapaceiros,
Políticos ladrões
Enquanto os Zé Pereiras brincam
Lá aonde o som da algazarra não chega
Mas deveria alcançar o clamor
Urdem, desconstroem direitos,
Seguem por retrocessos
E amanha verão dissabores
Desempregos, fome
Injustiças mais carências mil,
Multiplicadas, adicionadas aos desesperos da dor
Como acreditar que estamos em festa?
Afinal é carnaval e tudo pode
Também pode para os corruptos, desonestos
...Ladrões de sonhos, anseios, de gloria
Do povo festeiro, pacato,
Pacifico, e, ainda ordeiro
Crente que o amanha será melhor e farto
Como acreditar?