Manual de etiqueta para existir sem subverter a ordem*
Recorta teu passo
Na linha reta marcada ao centro do palco
Recorta teu gesto também
Na caixa de vidro da elegância engessada.
Não fale alto
Não ande rápido
Não cruze os braços
Não abra as pernas.
E siga nesse rastro infinito com setas que ordenam o retorno.
Discurse brevemente
em mares revoltos da pompa cronometrada
(muitos indiferentes precisam de palanque e o tempo é curto para que todos finjam participar!)
E as ideias? Deixe-as para as castas privilegiadas
(por títulos, por honra, sexo e tradição)
A você cabe a mera reprodução.
Sorria, sorria!
(Teu dentista agradece.)
Dance cautelosamente em círculos
Inflada na ilusão de ser especial
De ser mais importantes que o “resto”.
Não pare pra pensar na vida
(Teu psicólogo agradece)
E siga obstinada rumo à cova
que alguns poucos derramarão lágrimas
ao falarem de ti por algumas semanas:
“_Era (quem mesmo?) uma boa mulher!”
A.quela
*inspirado na música “Pequeno Perfil de Um Cidadão Comum” de Belchior