o pão sobre a mesa
havia aquele pão sobre a mesa
na sua memória
o pão jogado com raiva
pela mão do trabalhador
e este pão vem sendo
jogado há décadas
diante dos seus olhos
som de pancada seca
pão que matou a fome
com um nó na garganta
o pão jogado na mesa
ainda a faz estremecer
e dói aquele gesto
como dói...
até a fome mais cruel
doeria menos
bebendo um caldo ralo
doeria menos
servido com mãos suaves
e amorosas
mas ela amou aquele pai
com tanto ardor
e perdoou o homem
que era só sofrimento
quando sobre a mesa
jogou aquele pão
homens podem chorar
e magoar seu filho
um dia
o que mata de verdade
e aleija a alma dos meninos
é a indiferença
mesmo com a mesa farta
e nenhum gesto brusco
é o olhar que foge
e a mão que se afasta distraída
pobres crianças de pais ausentes!