HISTÓRIA NATURAL

O Sr. mora no Congresso,

eu moro na rua,

o meu insucesso

é sua falcatrua...

Olho as estrelas e faço um pedido,

cadente ela vai e some no mato,

pedir a quem não dá não faz sentido,

sou tão higiênico, tão limpo meu prato...

O Sr. dita as leis que sigo aqui fora,

as mesmas que não cumpre por ser o feitor,

da janela do prédio teus olhos exploram

a lixeira onde jogaste cada teu eleitor...

Olho o céu e nenhum deus vem ajudar,

nem desce uma praga, um raio de luz,

controlas o tempo, as ondas do mar,

de titânio, teu cofre é o que te seduz...

O Sr. não mistura povo e fartura,

nem tem o querer do homem do povo,

sabe que o homem faminto não dura

vivendo da casca, sem a gema do ovo...

Espio as sentenças pregadas no poste,

a lei do silêncio impera e vigia,

cobramos o devido, quer goste ou não goste,

não há o que lavar, não há nada na pia...

O Sr. fez-se o todo poderoso no andar de cima,

esqueceu que o calabouço guarda homens de bem,

o canto que escuta os obrigam à velha rima,

se nada na barriga como pode viver alguém?

As almas precisam de corpos nutridos,

os que vejo ao meu lado esquálidos são,

se não pensa nos velhos pense nos filhos

que são como os teus, amados ou não...

História que acaba sem falsa moral,

O Sr. se porá um dia deitado,

ninguém cantará o Hino Nacional,

melhor esquecido do que ser lembrado...