Velemo-nos
É a hora dos mortos.
Os cadáveres batem às nossas portas
E bradam seus lamentos mais humanos!
Eles são o terror dos homens de terno
E a saudade dos corações bondosos.
São eles: o sírio, o garoto faminto e a mulher mal amada.
Estão jogados aos meus pés,
E agarram-me com a única força que lhes resta para, ao menos,
Deixarem as marcas de seus dedos frios e magros em mim!
Quantos cadáveres são atirados nos mares
E chegam a um novo mundo
Para, logo, serem lançados aos montes na multidão!
Eles saem das miras das armas
Para serem executados com diplomacias e burocracias
De um dito povo honesto e cristão.
Ó, Ser que rege a Ordem Universal,
Perdoai a mim e aos meus irmãos
Do nosso vil egoísmo!
Perdoai os nossos pecados mortais,
Fazei aqueles cadáveres vitoriosos
Ao nascer o Sol no Oriente
E ao se por no Ocidente!
Somos todos cadáveres,
Vítimas de alguma guerra.
Pois, assim como aqueles primeiros o são no sangue,
Nós somos no espírito.
- Faltai-nos egoísmo,
Sobrai-nos compaixão!
301216