POEMA ENGISADO
Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda._________________________________________
Paulo Freire Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos.
(para além do há muito tempo)
ALÉM DO GIZ
Tombaram paliativos
Persistem os sintomas
O drástico
À forma
O tormento
A indicação
Urge medicação
Urgentemente
A grande bola inflável
Movimenta-se ao ritmo
Do que acompanha da música
Carne
Ossos
Deuses desvalidos
Tombam
Canetas
Telas
Giz
Tombam as energias
Os princípios libertários
Tomba o respeito
O universo emancipatório da sala de aula
O caos
Tombam na palavra cantada
Não desafiados
Meros brinquedos
Lado esquerdo
Direito
Emitem comentários interativos
Sem prestar atenção
À esmo
Tombam à espuma dos buracos
Cavam olhares
Aprendem com os movimentos
balbuciam
Não enxergam o mundo através
Eivado e puxado por um fio
Manuseado de alguma peça interna
Dos primórdios e do peito firme da professora
Que segue apesar, utilizando diferentes melodias
Amplia-se a pobre,
No desequilíbrio diante do caos
A professora construída no estridente do que toca o disco
segura e segura
Aprende a equilibrar a cabeça
Brinca de rede
De segurar as quedas dos caras, apesar "dos caras e coturnos"
Do risco de ingerir partes da embalagem
é mó...
é pó...
é ré...
é um resto de coisa
é o fim do caminho
Adiante (e diante) das peças caídas
Dos brinquedos e desníveis
Dos buracos e "istas"
engole
engole
Engole de brincar com pessoas
à-moral desordem
os movimentos que desencantam
enquanto todos permanecem deitados
mudos mórbidos mortos
em cima de suas bundas
o mote é vertical interesse
para no teto do olhar
olham para suas bolinhas de papel]
não veem através de
que se movem e fazem o som
ao som...
construído
das embalagens ingeridas
quando a produção deveria
ser construída por professoras maiores
no conforto acústico do ambiente por dentro
das peças de cada um
sem que fazem direita-esquerda
e virem a cabeça pra sua direção
próprio e não adequado
brinquedos humanos de encaixar
ping pong da nação
papel vegetal da vergonha
nação tapete
lixo
esgoto
bigatos
vômitos
brinquedo que americano gosta de arrebanhar
de tirar e colocar
vergonha de bater o pino
a cabeça fora do lugar
desabam nessa caixa de papelão sem educação
que anda, mas não engatinha
de joelhos e nunca de pé
era, deveria estar,
além do giz da risca
arrisca?
não arriscam
além do disco rígido rabisco
tombam f(v)endidos
com o pensamento dentro da caixa
jamais fora
caixa by USA
USAM e são esfolados
e o professor se recolhe ao seu lugar
ao seu simplório lugar
para além de transformar
ali onde deveria ser
O VENTRE DO MUNDO
Adentra a sala vazia...
Cheia dos seus homenzinhos ocos dentro das suas caixas
Uma caixa
Outra caixa
Aos milhares de caixas
Todos encaixotados
Espeçam
A dor de formar
Emancipar
Aquele que deveria inspirar a humanidades inteira
O eco
para o eco
Moucos ouvidos
O mestre despe-se
Dissipa-se
Não dá mais
Despede-se além do horário
A sala vazia
Encaixotadas as dignidades
Onde foi o brilho do olhar?
Onde foi o que estava dentro?
Carrega o giz como um fardo
O que era bendição
Agora é maldição
persiste o eco
ista, ista, ista, ista...
Não há mais salvação
Ele viaja pra dentro de si
Aposenta suas ferramentas
Estão nus
as cabeças e as caixas
as caixas
as caixas
as caixas...
Caneta
Tela
Quadro
Giz
Fecha a maleta
Dobra-se
Arquivam-no
É o tempo
É chegado o tempo...
Despede-se do que era transformar (guarda o transformador) de transformar o mundo num lugar melhor
Não tem mais energia para brigar...
FIM
____________________________________________________________
Nota:
ENGISADO - (neologismo da autora) Engisado, do giz, além do giz,
engisamento, relativo à GIZ. Poderia ser engessado, no engessamento, onde há pouca flexibilização, onde não há muita mobilidade, seria o caso. Mas quis referir-se à GIZ, risco, FRAGILIDADE do momento, O APAGAMENTO, a voz amordaçada, o triz, o risco do risco, o QUADRO NEGRO que a nação passa, a negação de valores, a figura que encontra-se o PROFESSOR, a plateia ateia das ideias, os rumos da EDUCAÇÃO. (tsc, tsc, tsc)