O CASARÃO

Ocultos pela pintura secular

o barro num abraço petrificado,

agarra a galhos amarrados

por mãos depositadas na terra.

Quantos anos se passaram?

Quantos prantos derramaram

pelo afago dos chicotes?

O suor banhando o rosto.

O sangue quente correndo nas veias.

O sorriso amaldiçoado do patrão.

A lágrima fria no olhar da menina.

Um dia atrás do outro.

Um suspiro solitário.

Uma lágrima colhida.

Um lamento escondido.

Um sentimento de dor (...).

Na saudade uma paixão,

que vai morrendo com o tempo

nas entranhas das paredes,

com o passar dos longos anos.

Quantas almas foram escravizadas

e quantos moços chicoteados,

construíram aquele casarão,

que hoje desfigurado e pálido

vai desfalecendo próximo,

bem próximo à residência de Deus.

Vejo agora as portas e janelas

que trancavam inúmeros segredos,

sendo desfiguradas lentamente

por suas paredes e telhados,

que recusam o abraço fraternal

do barro, aos galhos carquilhados.

Sinto que os anos irão se passar.

Leves e soltos, lentos,

longos e esquecidos.

E na distração da corrida

em busca de um futuro incerto,

pode ser que eu não mais veja

este antigo casarão em meu caminho.

Pois o tempo não para

e a pintura da novidade

pode vir a ocultar

os tijolos, o concreto e o aço,

petrificados nos corações aflitos,

gananciosos e desnaturados.

Onde nenhuma carrança

há de lembrar de que um dia

fora barro e muito em breve

será pó depositado na terra

como as próprias mãos

dos inúmeros operários

que a chicotadas, sangue,

suor e lágrimas de dor

edificaram o casarão.

Pitangui (MG), 17 de dezembro de 2007.

Tadeu Lobo
Enviado por Tadeu Lobo em 04/11/2016
Código do texto: T5812969
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