Quantas bocas serão necessárias?

Revogo as poesias de amor,

Pois agora sou poeta que despe o homem;

Lanço ao horizonte das falsas moralidades

As máscaras que matam, e não incriminam.

Quantas bocas serão necessárias para anunciar o Fim do Mundo?

Esse mundo ininteligível de sensações intrépidas,

Gulosas por ideias medrosas e amarelas,

Das quais os Gordos alimentam-se invectíveis

Com suas bocas gigantes prontas para abocanhar

A própria cauda de víbora se o puderem?

Homens são um holocausto de calamidades;

Unem as sílabas miúdas e formam discursos imponentes!

Acreditam nas promessas? Não!

Um frescor atinge os filhotes famintos,

E logo percebem que a mãe traz no bico a lama

Dos esgotos e dos vermes.

- Rumo ao progresso! Rumo ao milhão!

"Meu Senhor, dê-me mais hoje

Para que amanhã eu tenha muito mais".

E rezam, de joelhos, os Gordos...

Os magnatas são os parnasos

Que excitam-se no feromônio e nas cores da cédula.

Célula. Célula que organiza-se num organismo obeso e monstruoso.

Ó Personagem que atemoriza a História!

- Mais água no feijão para mais alimentar.

- Menos tempero na sopa. O sódio faz mal!

- Nenhum asfalto nas estradas. Mas já já chega!

- Jovens nas cadeias. Porque é preciso!

Discursam os Gordos.

Cidadãos, atores da democracia,

Façam tal favor para o mundo:

Morram de fome; morram de gripe ou morram de bala,

Mas defendam a Bandeira!

... Sim, a mesma posada no Congresso.

261016