Dissertação poética

Piso tábuas que rangem
Passadiço da vida, pegada anunciada
Jamais percorro escondido os dias
Ou as noites oculto na bruma
Por detrás de palavras bonitas
Nas metáforas floridas,
Ou no brilhos das estrelas,
Não, não tenho por hábito esconder-me
Vivo, transparente como as águas do mar
Na ondulação que se enrola na areia,
Exposto pelos detritos
Que o mar deixa depositados na praia,
Para que esconder-me, enganar-me a mim próprio
Se eu sei quem sou, para que esconder-me
Nos longos subterfúgios linguísticos,
Fingindo sentir o que sinto, declarar-me derrotado
Mas venci, venci-me a mim e o mundo
Amo, sem duvida que amo,
Amo-me a mim, amo também os outros em mim
Amo o mundo, amo a vida e o que ela contém
Não tenho necessidade de fingir um amor que sinto
Apenas sinto, transpiro-o, inscrevo-o
Mesmo na saudade, na desilusão
Na nudez própria dos corpos,
Às vezes penso em poder chover-me
Todo eu fragmentado em pequenos versos
Rimas, metáforas, alegorias,
Apenas desejava ver as palavras
Sopradas pelo vento,
Embrulhadas na estrada seca
Adubando a aridez cognitiva do pensamento juvenil
Para que entendessem definitivamente
Que os velhos, os trapos, também amam
Também sentem…

Alberto Cuddel
26/10/2016
In: Palavras que circulam XXXVIII

Alberto Cuddel
Enviado por Alberto Cuddel em 26/10/2016
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