Ser mullher
É difícil ser mulher. mãe, prima, irmã, amiga, esposa, companheira e ainda ser o que quiser.
É difícil acreditarem que quando danço, desço até o chão,
não estou pedindo para me olharem.
É difícil acreditarem, que quando não danço, não danço e pronto. Não é para passar imagem.
É difícil querer me recatar pra ainda sim ser a santa que não quer dar.
É difícil querer me libertar, pra ainda sim, fazerem de meu corpo sexo e talvez me estuprar.
Impossível ser sexual, se pra eles meu corpo não passa de pernas abertas para um animal.
Sou fragilizada, julgada pelo corpo.
Minha poesia tem que ser igual pra ser aceita nesse jogo.
Não posso falar de sexo, não devo falar de bebida. jamais rebolar a bunda ou viro vadia.
Mas Ô macho, tu pode fazer toda essa apologia. comer mil minas numa rima, não pesa tua hipocrisia?
Fala de favela, fala de luta e igualdade. onde ta a mulher nesse circuito da verdade?
Onde ta a mana que omite a droga do gato e por ele vai cana?
Onde ta na rima, aquela mana que apanha calada, vendida pela cocaína?
Dificulta ser mulher se da dança a transa, a gente não pode mostrar o que quer.
Tu idolatra a MC bonita. ela usa roupa curta, não nota? se fosse gorda com roupa de basquete tu chamava ela de sapatão, a errada ou a torta.
Me tornaram mulher. me ensinaram a vestir, sentar, calar, cozinhar, como olhar. Meu sexo nasceu comigo, meu gênero foi posto.
Me vejo como mulher, do jeito que abri olhos e me vi como eu quero, e não como tu quer ou me foi imposto,
Na tua rima, onde ta o pau que dão na mina?
Tu que diz que denuncia a pobreza da favela, das ruas e vielas.
Onde tu fala a mulher que esta dentro dessa miséria?
Poesia é denuncia, é luta e prova de respeito.
Respeite as mina, as mana, as mona.
Mude esse conceito.
Ralúsia Nunes
10/10/2016