Etnopoética

Paraenses de espírito

Na romaria Amazônica

Reencontro emocionado

No dia de Nazaré

Na passagem da mãe régia

Elementos dessa festa

Carro dos milagres, velas

Partes do corpo em luz

Casinhas de miriti

Traje em cachos de açaí

Crianças pelas mangueiras

Ombros carregando cruz

Da triste lembrança dela

À agonia de agora

Pés descalços da senhora

Joelho, sangue, homem, ais

Olhos d’água transbordantes

Uma dor esperançosa

Na agonia da corda

A comoção dos mortais

Protegida fica a imagem

O alto clero, a guarda

A elite na sacada,

O padre, o sacristão

Brilham artistas da globo

Turistas se impressionam

Nem lembram que abandonam

O norte dessa nação

Enquanto Fafá de véu canta

O lírio à matriarca

Às margens da via sacra

Acena o bêbado, o ladrão

O menino cheira cola

O Mendigo pede esmola

Na Riachuelo acorda

A puta, seu cafetão

Rogam todos por milagres:

"lembra de nós, os da praça

Te pedimos, mãe, de graça:

Vê tamanha divisão”

E quando a procissão passa

Flores soltas da berlinda

E restos da corda cortada

Fazem chá para curar

Realçam na festa do branco

Costumes do nosso canto

Crendices, banhos de encanto

Usos do nosso falar

E à Portugal que trouxe

A religião e a escória

Na festa de Naza senhora

Tudo representações

Mestiçagem da cultura

Etnias dizimadas

Ihê Mãi, coroada

Sobrevivem os xamãs

AlineCS