LABIRINTO DE CONCRETO
Enquanto a Olimpíada acontecia, com certo luto
“Sua” rua ficou “vazia”, só ela permaneceu, todo mundo sumiu
No seu endereço oculto em um canto sob o viaduto,
Compartilhados com outros vultos, sobre a Avenida Brasil
Ela está lá sozinha com seu feto
Em meio ao odor infecto de fezes e urina
Escondida no labirinto de concreto
A quadragésima semana está mais iminente que ela imagina
Tão próxima que chegou hoje… Medo, silêncio, agonia
O choro inocente não incomodou a silente madrugada
Uma bandeira brasileira cobria a pedra fria
Não houve pranto, não houve espanto, não houve nada.
Uma policial levou os bebês para o hospital
Deus preferiu levá-los para o céu
Os médicos disseram-na que isto é um fato habitual
Ela disse-lhes que não aceitará mais fazer apenas o seu papel
Ela ainda está lá sozinha, agora, sem seus fetos
Sem roupa, sem comida, “sem vida”, sem teto.
Nota: Durante os Jogos Olímpicos Rio 2016 um grupo de moradores de rua e usuários de Crack que vive sob o viaduto Brigadeiro Trompowski na Avenida Brasil entrada da Ilha do Governador RJ, foi recolhido do local. Especularam que foram alojados no quartel da Aeronáutica ali próximo, também, na Av. Brasil. Como as obras não terminaram no prazo estipulado, ficaram vários blocos de concreto enfileirados em baixo do viaduto formando um labirinto sombrio e solitário. E uma vez passando de ônibus por lá, vi uma menina aparentando entre 15 e16 anos, sozinha, grávida com a mão na barriga e uma expressão de dor e se deitando entre os blocos de concreto. Durante a Copa do Mundo de Futebol 2014 eles também estavam lá e havia algumas meninas grávidas, então escrevi uma Crônica com o título de “OS CRAQUES DE RUA E O CRACK NAS RUAS” fazendo uma alusão ao dito de que o brasileiro nasce “craque”. Porém, muitos agora, também, nascem do “crack”. De 2014 a 2016. Carnaval, Réveillon, Copa do Mundo, Olimpíadas… Tráfico, Milícias, Corrupção, Lava-jato, Impeachment… “...O Rio de Janeiro continua sendo...”