Imigrante ilegal voador
Daqui de cima acalmo o tédio
Tomo uma fresca
Lembro do resto
Do pouco de tempo que passei no meu lar
Desfaz-se o vidro no meu reflexo
Aproximando dá pra enxergar
O brilho da pena que assina
Pra nomear mais um dono de chão
Pelo dinheiro
Até por paixão
De quem preferir achar
Que pedaço de terra é moeda
E ainda moenda de seu pesar
Aqui de fora escuto o vento
Arranho com a unha o cal das pastilhas
Me recordo de mamãe
E do trator, da derrubada
Da ilha, do mangue, da fuga cansada
Olho pra baixo
Não me assemelho a nada
Anjo do mato adaptado
Esperando a corrente de ar
A caneta lá dentro ainda assina
E delega poder de plantar
Somente um tipo de flor
Deve ser superior, seja qual for
Tem dia pra nascer e hora pra cortar
De trás da janela, pousada imposta
O mercado movimenta a caneta
E na reciprocidade da proposta
Minha casa ficou no meio da rota
Distante envergo o dorso à caça de um roedor
O documento lá atrás me legitima
Imigrante ilegal voador
Carcará, gavião, bico curvo
Limpando a cidade dos ratos
Pra poder passar o metrô
Sem se preocupar em se sujar com o vermelho
Que o rastro de cidade deixou