ESTATÍSTICA
O tocar tonitruante do alto da torre,
cuja sibila suave do sino
repete rigorosamente o ruído.
Timbra e toca. E treme. Tre-me,
enquanto a chuva chia lá fora.
Na sarjeta, ali jaz da juventude
mais um reflexo irrefutável de sua rebeldia.
Marcas de uma mira mortal,
com brechas, buracos, ventas e vilania.
Corpo crescido de criança. Calibre cruel.
Pele preta. Roupa rota.
Penduricalho de prata de Cristo
preso ao pescoço.
Sangue sujo a jorrar pelas lajotas
Em frente à catedral cristã.
O trovão estronda e arrebenta a rua.
Que treme. Tre-me
duas dúzias de vezes,
Que se mistura ao sibilar do sino.
A sinfonia surge.
E o corpo caído. Ali, largado sob o luar.
Ao fim da festa de fevereiro
após o último retumbar do repique,
Um corpo cru de criança,
Que jorrava juventude.
Estará estampado
no próximo programa da quarta
de um canal de quinta qualquer.