ESTATÍSTICA

O tocar tonitruante do alto da torre,

cuja sibila suave do sino

repete rigorosamente o ruído.

Timbra e toca. E treme. Tre-me,

enquanto a chuva chia lá fora.

Na sarjeta, ali jaz da juventude

mais um reflexo irrefutável de sua rebeldia.

Marcas de uma mira mortal,

com brechas, buracos, ventas e vilania.

Corpo crescido de criança. Calibre cruel.

Pele preta. Roupa rota.

Penduricalho de prata de Cristo

preso ao pescoço.

Sangue sujo a jorrar pelas lajotas

Em frente à catedral cristã.

O trovão estronda e arrebenta a rua.

Que treme. Tre-me

duas dúzias de vezes,

Que se mistura ao sibilar do sino.

A sinfonia surge.

E o corpo caído. Ali, largado sob o luar.

Ao fim da festa de fevereiro

após o último retumbar do repique,

Um corpo cru de criança,

Que jorrava juventude.

Estará estampado

no próximo programa da quarta

de um canal de quinta qualquer.

LC PEREIRA
Enviado por LC PEREIRA em 10/09/2016
Código do texto: T5756822
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