Desafeto ao metal (esmola: dar, ou não?)
Os olhos pedem muito mais que as palavras
Mendigos que perambulam pelo trajeto
pedem pão, trocados, afetos
Cegamos os olhos, cruzamos os braços
e rumamos ao shopping, estádios, butiques
bares, motéis, hotéis, escolas, congressos,
porque as ruas não nos permitem sonhar...
As ruas são a miséria,
as nossas vergonhas expostas,
a nossa própria exposição.
Nelas encontramos o descaso
o fundo do poço, o asco,
e nenhuma solução.
Estamos empapuçados de medo
trancamos janelas, portas e recolhemos
as mãos que poderiam doar, afagar, repartir.
Esmolar e dar esmola, não resgata o cidadão,
não lhe devolve a dignidade
nem o senso de justiça
não lhe abranda o coração
Talvez lhe sirva para o pão
(matando a fome)
Para o crack , álcool, arma
(matando-se ou matando-nos)
Dar esmola é compactuar
com um desgoverno que se permite
encher o próprio bolso
com a grana destinada
ao bem estar da nação.
Ao doarmos as esmolas
estamos criando sempre dependentes
para deixa-los novamente no abandono
de uma eterna fome
de um perene descaso
de uma mortal solidão.
Apesar de
sacio a fome, dôo remédios,
distribuo brinquedos, ouço-os com atenção
Capto um sorriso, um agradecimento.
Mas não dou a eles o que mais precisam
Resolução da problemática que é
social, humana e fundamental
“Direito à vida em igualdade de condição”.
Minha esmola não ajuda em nada então...