OLHOS LÍQUIDOS ( esmola: - dar, ou não ? )

Os olhos

alcançam-me muito antes das palavras,

que nem escuto.

Uns olhos líquidos imensos,

que não piscam,

apenas olham infinitamente,

como noites negras confinadas,

onde raros acasos brilharam estrelas

de poucas alegrias.

Uns olhos sem fome nem sede,

nem vícios ou virtudes,

olhos que não pedem ou culpam,

não protestam, nem lamentam,

nem choram, nem isentam...

Uns olhos

de profunda melancolia,

em total desinteresse

pelos dramas de mais um dia.

A mão, veio depois,

muito suja, aberta,

pedindo, mortiça,

satisfeita por antecipação,

cheia com qualquer trocado,

e sublimemente indiferente

aos resultados práticos

dos seus gestos brandos...

Fez um trejeito de dedos,

num meio desengano,

que me captou a atenção

e a perplexidade,

e que se antecipou

à minha cabeça balançando,

em negativa...

E foi nesse meio tempo,

mínimo e brutal,

entre o gesto dos seus dedos

e o meu olhar nos seus olhos

totalmente desenganados,

que nos entendi a ambos,

afinal...

Ambos sem outra saída

além da tela colorida

onde o destino nos pintou

de cores diferentes,

no nosso caminhar:

Um, sabendo que pode pedir.

O outro, que não deve dar...

20/7/2007