Infância dos mortos
Olhos ligados na realidade suja
com a dor de respirar o perfume das ruas
entre ratos , baratas e sangue.
Menino vestindo de menina
entre quatro paredes
o sonho vira apenas uma nota de dois reais
Aborto na privada de um hotel barato
ninguém tem pergunta
ninguém tem nome
A fotografia do jornal teve que desfigurar o rosto do anjinho
Que sentiu muita dor
tentando sonhar com o coelhinho da Páscoa.
Ninguém viu nada de errado
a droga era de graça
Apenas um tapinha
o filho se satisfaz
com apenas um minuto de silêncio.
O pixote vem pro quarto
existe muito mais balas pra ele chupar
mesmo que o gosto seja ruim
amanhã ele vai
pedir uma arma de verdade para o papai Noel
Senta no colo do sistema
e escolha o trilho serto
para desaparecer no horizonte.
Ele nunca teve um nome.