Infância dos mortos

Olhos ligados na realidade suja

com a dor de respirar o perfume das ruas

entre ratos , baratas e sangue.

Menino vestindo de menina

entre quatro paredes

o sonho vira apenas uma nota de dois reais

Aborto na privada de um hotel barato

ninguém tem pergunta

ninguém tem nome

A fotografia do jornal teve que desfigurar o rosto do anjinho

Que sentiu muita dor

tentando sonhar com o coelhinho da Páscoa.

Ninguém viu nada de errado

a droga era de graça

Apenas um tapinha

o filho se satisfaz

com apenas um minuto de silêncio.

O pixote vem pro quarto

existe muito mais balas pra ele chupar

mesmo que o gosto seja ruim

amanhã ele vai

pedir uma arma de verdade para o papai Noel

Senta no colo do sistema

e escolha o trilho serto

para desaparecer no horizonte.

Ele nunca teve um nome.

fred albano
Enviado por fred albano em 08/08/2016
Código do texto: T5722231
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