DESTROÇOS DA EXISTÊNCIA
As lágrimas secaram, mas não pelo fim da tristeza.
Secaram, porque a desolação venceu a alegria.
As crianças correm pelas ruas, mas não por brincadeiras.
Correm fugindo das bombas lançadas por pessoas frias.
O recém-nascido no sertão dorme um sono profundo,
Mas não por conforto ou alento e sim pela fome que o desola.
Um homem sai do subsolo e observa as paisagens do seu mundo,
Mas não por admiração, olha os destroços existenciais que o isola.
O soldado, depois de ferrenhas batalhas retorna da guerra,
Mas não está feliz, está triste ao contemplar o seu corpo mutilado.
Um andarilho, cansado, observa no jardim alheio as flores ternas.
Mas não se inspira com a beleza, pois se sente marginalizado.
Um camponês admira o enorme horizonte de terras disponíveis,
Mas o descontentamento o consome, pois ele não tem onde plantar.
E tenta entender porque o mundo é tão cruel e desprezível,
Pois alguns passam fome e outros, a arrogância a saciar.
Nações pregam a liberdade, mas ao preço de algum povo dominado,
Afirmando que são melhores e mais fortes, delimitam suas fronteiras.
Em seus hinos cantam uma glória insana zombando os derrotados.
Constroem metáforas da segregação erguendo opressoras cercas.
Mundo complexo e estruturado nas bases da ignorância,
Tentando explicar e mostrar a clareza dos destinos na contradição.
Poderosos estruturados com exércitos e armas matam a esperança,
Alimentando nos menos afortunados o conformismo ou a decepção.