PANORAMA EM JOGRAL (verso & prosa)
PROSA I
Todos os céus escureceram
E na una linha do horizonte
Massas de nuvens cinzentas
Chovem às gentes esquecidas ...
Em sonoplastia sangrenta.
PROSA II
Num abraço afrouxado
Todo o céu é decantado...
Desbota-se o arco-íris,
Um mar balouça em águas vermelhas,
E o albatroz branco perde o norte da razão,
Num planeta em convulsão.
VERSO I
Não há chuva
Mas chove ratos sobre nossas cabeças!
PROSA III
Ratazanas nababescas e gulosas de vidas
Seguem soltas e lerdas,
Pesadas qual fardo sem solução
Nutridas dos cadáveres invisíveis
Do tudo que se matou em silêncio...
O tudo que ninguém viu.
VERSO II
Só a poesia o pressente
Em versos brancos e silentes.
PROSA IV
E mais... e mais...e sempre a mais...
Ratazanas elegantes saem das tocas
Já desfiguradas , caricatas
pelas almas apodrecidas
Se riem da liberdade furtada de todos
Em meio aos lixos dos submundos...
A roer o resto do nada que restou.
VERSO III
A Terra é alvejada,
A fé é degolada
A palavra é embargada
A bomba é acionada
A vida despedaçada!
PROSA V
Leio uma vaga notícia em manchete mundana:
“uma ladra masca chicletes!”
Num deboche improvisado
Às telas ávidas da televisão.
VERSO IV
Por um pedaço de pão
Um lenço da Louis Vuitton!
VERSO V
Más notícias em canhão:
“há um mundo em podridão!”
Belos ratos em mutirão...
PROSA VI
Dos açoites surgem festas
Ao cenário agonizante...
Ignorância é qual sementes
Da miséria tão pungente...
Toda ela em chão crescente.
PROSA VII
Por nada muitos se vendem...
Aos ventos das destruições
Diplomadas em omissões
das falências abstratas:
VERSO VI
Da arrogância tão velhaca!
VERSO VII
Pragas já disseminadas
Sem vacinas planejadas
Fazem mortes indigentes!
Ao destino das correntes.
VERSO VIII
Não há matas,
não há rios,
Morre o verso consciente...
Já não há sequer vertentes!
Que socorram tantas gentes.
VERSO VIX
Drogas a obnubilar as mentes.
VERSO X
Seguem os Zumbis humanos
Pelo chãos carbonizados
Nos churrascos dos palácios.
VERSO XI
Todo ar é rarefeito
A fumaça é prato feito.
VERSO XII
Panorama de rescaldo
Passivo desumanizado,
Sem mais nada a perder,
Só há dor a se gemer.
VERSO XIII
Alguém pede um analgésico
Para a dor de tanto tédio.
VERSO XIV
Outro alguém então prescreve
O remédio inexistente
Às mãos fracas, impotentes!
PROSA VIII
Pelo tempo tão poluto
Luz etérea acende ao mundo:
Pira de suposta paz
A ofuscar os olhos presbíopes
Ao que já não se refaz.
VERSOXV
Paz humana? verso fugaz!
PROSA IX
Mais um rato sai da toca
Aplaudido em meio a tocha
Diabólica aliança?
Ratos... que ninguém alcança.
VERSO XVI
Em holística trajetória...
-ratos são luta inglória!
Jogam às massas cinzentas
Só granizo em decadência.
VERSO É PROSA:
Franco "end" em fluência
Verso em prosa se desfaz
Cessa a rima a prosear.
Não transitado em julgado
Todo o mal segue opulento...
E ao fim prenunciado
A poesia faz silêncio.