A Longa Marcha
Há um desprezo pelo velho instituído
Certo abandono do que foi constituído
Um ressuscitar nas sombras do destituído
Luta corporal, revigorante, do que deve ser restituído
O que somar? Se só tem subtraído
Como confiar? Em quem tem nos traído
Nossos infantes com caminhos obstruídos
Nossa mocidade de sonhos prostituídos.
Nos escombros natimortos da memória
Nasceu um fluido de esperança
Nos assombros perturbadores da história
Com seus mitos, lendas e perseveranças
Somos fantasmas vivos das escórias
Marchando firme por longas andanças
Kamikazes sem rumo e sem glorias
Um povo sem festas e sem crianças
Marcharemos sim, com nossos pés descalços
Sobrepondo os fins e seus percalços
Secaremos lágrimas ao receber o hálito do vento
Escreveremos páginas com as tintas do tempo
Surraremos o brim sem embaraços
Uma só batida de pernas e braços
Sem palavras num só movimento
Envolvidos pelo mesmo sofrimento.
Henrique Rodrigues Soares – Canibais Urbanos