MÃE OU MADRASTA?
MÃE OU MADRASTA?
autor: j.r.filho.
A última flor do Lácio fez-se laço
Que subjuga, desvirtua e enfraquece,
Outras flores forjadas na têmpera do aço,
Mas não imunes ao calor que aquela oferece.
Semântico cadinho que arde em fogo étnico,
Catalisaste homens em tua reação...
Ensaiaste um espetáculo pirotécnico
Para gáudio de uns e de outros, não.
Língua pejada de sotaque aristocrático
Vulgarizada, mas querendo impor-se clássica...
Usando pragmático, em vez de prático,
Com avara intenção colonialista tácita.
Teus frios fonemas cantados por Camões
Foram exportados com terrível e única missão:
Dilapidar, coagir, submetendo nações
Travestidos no eufemismo: civilização.
No candente amálgama de propósitos vis
Dizimaste povos como corolário:
Tapuias, Tupis, Aruaques, Guaranis...
Apanágio de morte o teu vocabulário.
Cânticos dolorosos a África ainda entoa
Em S. Tomé e Príncipe, Moçambique, Angola,
Madeira, Timor-Leste, Giuné-Bissau e Goa:
Nações tuteladas pelo idioma da argola.
Foste cognominada de “inculta e bela”
Em poema de outrem que a verdade contrasta.
Não tens sido Mãe, pois, tens sido a sequela
Imposta à orfandade em forma de Madrasta.
Amélia Rodrigues-Ba. Setembro de 1985.
Poesia extraída de meu livro: O Homem, o Tempo e a Poesia.