Grito
É a minha parte menina que chora
o que te faz doer
É minha parte menina que
não entende o que é vil, o que fere, o que machuca,
o que marca como ferro em brasa, o que por fora e por dentro maltrata, corta, mata, dilacera,
degenera, agride, desacorda, desencanta,
É a minha parte menina que chora
pela dor que sentiu
pela violência que sofreste
pela cultura de violências externas
internas, psicológicas, física e da alma que
te submeteram e que são submetidas tantas mulheres
É a minha parte menina
que chora... e que ora para que tuas feriadas tenham uma dor menor, - porque sei que sangras -
É a minha parte menina que pede para que tua alma também violentada não morra de tanta dor...
É o meu lado menina que compreende que nada justifica tamanho terror, porque o meu lado adulta, mãe, se desespera, porque o meu lado humano sangra, porque o meu lado alma não entende, porque o meu lado intelecto não quer racionalizar,explicar, argumentar coisa alguma, porque esse lado é revolta e não contem - se no absurdo de ter que chamar essa sociedade de civilizada,quando na verdade é cruel, mascarada, permissiva, inconsequente, hipócrita,podre.
É o meu lado menina, que sente suas dores e grita alto absurdamente alto para que se reflita, se raciocine,se ame um pouco mais...que se julgue menos, que haja aceitação dos nãos e percepção das fragilidades, da incapacidade de defesa...grita para que haja respeito...
O ser dito humano, anda se animalizado, tenho medo de gente...
É o meu lado menina como ainda és, que não aceita racionalizar e compreender essa barbárie, que seja feita justiça e que haja mais respeito...esse é o meu grito - compaixão e justiça.
Vivian.
Repúdio ao crime de estupro em maio do presente ano - absurdo!
Brasília - DF, maio de 2016.