Prolixos

Em meio ao inevitável emaranhado social

Vivo com a sensação de ser um tanto esquisito.

Sem nenhum voto nas eleições do normal,

Perdi pela ausência de essenciais requisitos.

Pois nas tentativas de me aproximar do ideal

Não obtive sucesso como as pessoas que imito.

Sobrevivo somente com o necessário artificial

Enquanto o natural é cada vez mais restrito.

O caracol se retrai ao contato que lhe faz mal,

Eu, sem concha, suporto a exposição, sempre aflito.

Internamente refugio-me numa fortaleza racional

E ao final dos protocolos cotidianos, ressuscito.

Por tantas vezes desejo ser mais convencional

No paradoxo de buscar o que diariamente evito:

Expressões trabalhadas em contato pessoal,

Um querer não querendo, eis meu recorrente conflito.

De fato, exige-me um enorme esforço cerebral

Corresponder a palavras nas quais não acredito.

Falta-me experiência em transitar no superficial

Nasci submerso, e de profundo silêncio necessito.

Vitimado por constante inundação oral,

Sou náufrago arrastado por este oceano infinito.

Escrevendo na areia de minha ilha mental

Reconheci que eu sou uma pessoa por escrito.

Gustavo Carnelós
Enviado por Gustavo Carnelós em 18/04/2016
Código do texto: T5609264
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