Prolixos
Em meio ao inevitável emaranhado social
Vivo com a sensação de ser um tanto esquisito.
Sem nenhum voto nas eleições do normal,
Perdi pela ausência de essenciais requisitos.
Pois nas tentativas de me aproximar do ideal
Não obtive sucesso como as pessoas que imito.
Sobrevivo somente com o necessário artificial
Enquanto o natural é cada vez mais restrito.
O caracol se retrai ao contato que lhe faz mal,
Eu, sem concha, suporto a exposição, sempre aflito.
Internamente refugio-me numa fortaleza racional
E ao final dos protocolos cotidianos, ressuscito.
Por tantas vezes desejo ser mais convencional
No paradoxo de buscar o que diariamente evito:
Expressões trabalhadas em contato pessoal,
Um querer não querendo, eis meu recorrente conflito.
De fato, exige-me um enorme esforço cerebral
Corresponder a palavras nas quais não acredito.
Falta-me experiência em transitar no superficial
Nasci submerso, e de profundo silêncio necessito.
Vitimado por constante inundação oral,
Sou náufrago arrastado por este oceano infinito.
Escrevendo na areia de minha ilha mental
Reconheci que eu sou uma pessoa por escrito.