Contagem regressiva
Minha terra tem palmeiras,
tem pavor,
tem horror,
globos quebradiços
e beiços roxos de cartomantes,
covil de santos,
câmaras de probidade e suor frio.
Que frio, pátria amada!
Escorre-se pelo pescoço,
o mel e a saliva,
a putaria doutrinária
encangada na jurisprudência
arreganhada das esquinas,
por sobre os pelos que camuflam
o escuso,
pelas barbas
de profetas engomados e filhos da puta,
pelo nome dos filhos das esposas
e das marias.
Minha terra tem sabiás!
Cantam alto, mas se escondem,
alugam os pulmões e o progresso,
temem o choque e a circuncisão,
sabem demais desta terra que acostumou
a eleger ladrões e inocentar assassinos.
Contagem regressiva.
Nosso sangue verterá...
Cruzes e credo
no olhar de um povo acabrunhado
por fantasmas de carne, osso
e democracia.