Banho de Lama

O cão pensa que orando chove ossos,

e a galinha faria o mesmo, pelo milho,

vivemos a endeusar pendores nossos,

implodimos valores e entre destroços,

cuidamos do interesse, predileto filho...

Vale tão pouco, o homem que não vale,

nas circunstâncias além do seu umbigo;

mostra sua nudez triste, desde que fale,

mesmo camuflado numa folha, ou xale,

a vergonha aparece, seu desvalor, digo...

Esse mar de lama, carente d’umas ilhas,

a verdade afunda, lamacentos desejam;

ainda que logre singrar por umas milhas,

será perseguida, alvejada pelas matilhas,

como se, venenosos os lábios que beijam...

Pobre Terra, onde os ladrões são os reis

o que demanda que súditos sejam cegos;

pisoteiam os princípios, os fatos e as leis,

a justiça é combatida, por injusta, talvez,

destarte, o martelo é batido pelos pregos...

Meu país, quem foi que te furou as vistas,

pois, apalpas assim, em plena luz do dia?

Pra onde foram as propaladas conquistas,

das trombetas troantes, as propagandistas,

Que tocavam núpcias quando você morria?

Mas, eu sou teimoso, não jogo minha toalha,

Antes de contarem até dez, em me levanto;

Ainda verei atrás das grades essa escumalha,

Num devir venturoso que por ele ainda valha,

Sofrer o triunfo dessa maldade, por enquanto...