Estrangeiro
Eu não entendo muito, soa confuso,
Deve ser por que, falo mal o idioma;
À mudança da noite pelo dia, o fuso,
viso me adaptar, e, mal estar assoma...
Não sou desse país, nem sou quisto,
Falo certo dialeto morto, de véritas;
Uso mímica, para comunicar, insisto,
Não desisto às frustrações pretéritas...
Erro num país que inverte trigo e joio,
Porque eu pensava conhecer farinha;
O que deveria implodir cerca o apoio,
nativos, claro, nada com a mão minha...
Estrangeiro, nessa pátria das falácias,
Onde obsceno é moda, decência, feio;
Veneno franco em alugadas farmácias,
Dado puro, nem misturam com recheio...
Eu não sou desse país, e estou perdido,
De onde vim, era valor pétreo o decoro;
Cá, alugam ventres pra blindar bandido,
E línguas, pra difamar até Sérgio Moro...
País de estranha bandeira cor, sangue,
de paz a ladrões, aos cidadãos, guerra;
que loteia bens, poder, co’uma gangue,
quem trabalha direito, apenas se ferra...
Ah meu país e seu cenário pós guerra,
Que te lançou nessa crise tão medonha;
Gritaram, biltres, que eram sem terra,
Para camuflar que eram sem vergonha...
Mesmo vendo o que foi à vasta distância,
E contendo a custa a mais digna revolta;
Não posso me mudar pra outra estância,
Tão somente quero, o meu país de volta...