Castro Alves visita a favela.
Cala o teu ego em meu espírito,
meu conspícuo Castro Alves,
pois teu negreiro ainda sussurra,
o açoite, a fome e outras mazelas.
Por que perturbas minha consciência?
Ouço teus passos adentrando na favela.
Voga tua poesia sobre este esgoto fétido,
a queimar-lhe as narinas,
sob o céu cinzento e em aberto.
Sob teus pés, a urina e o ranço,
de pelados e maltrapilhos;
dos herdeiros da casta marginalizada.
Clama do céu meu amigo poeta.
Roga com a beleza de teus versos,
ao teu povo tão amado e sofrido;
venha nova libertação.
Voga tua poesia silenciando o pranto,
entre as tábuas frias as lágrimas prostituídas.
Sossega teu ego em meu espírito,
enquanto adormeço fitando tua mão,
tristemente empunhando a pena.
Idos, cento e trinta e seis anos,
ainda ouves o tortuoso lamurio.
Voga tua poesia Castro Alves.
Vejo-te na favela, numa imensidão de barracos,
sobre o rastro do árduo batalhador
e dos comensais traficantes.
Vide a inocência desvanecida pelas armas,
pelo medo e pela falta de oportunidades
e voga em tua poesia, que a esperança prevaleça.
(2º Lugar Concurso Poesiarte em Foco 2007 - Rio de Janeiro)