O coro da Primavera

Pendurado num cigarro vagueante

Na calçada iluminada pelo sol

Calcorreio em passos lentos meditantes

Escutando da fria brisa lembranças e memórias

Trazidas em embrulhos coloridos

Como os balões que fogem das mãos das crianças

Nas montras de vidro o reflexo de mim

Não permitindo vislumbrar os artigos expostos

Cuidadosamente colocados para chamarem a atenção

Obrigando-me a prosseguir colado à sombra que me segura

Sem qualquer direção definida ou escolhida

Chegado a um banco de madeira sento-me

Não pelo cansaço ou sequer pela curiosidade

De noutras sombras me rever

Antes pela vontade de ver o Passado

Desse jardim antes vivido e respirado

Conta-me esse variado colorido

As tardes soalheiras cantadas,

Os ritmos compassados de passos descansados,

As forças de lutar, juntas as vozes numa voz,

Reerguendo o corpo relaxado em decidida decisão

De desse jardim perfumado pelas flores ser guardião

E já das sombras se levantam outras faces,

Erguem-se os braços em entrelaços,

Punhos cerrados numa canção,

Decididamente em escolhida direcção

Para aos abutres fazer frente,

Gritando vorazmente o NÃO

Qual rugido de leão,

Levantando ainda mais a voz

Dizendo BASTA!

Segurando um cigarro

Retomo o caminho de regresso

Não deixando o fumo tapar-me a visão

Calcando as podres folhas ainda inertes

Sentindo na brisa agora morna

O refrão do coro das Primaveras

Cantadas pelo Povo da minha Nação

Delfim Peixoto © ®

Delfim Peixoto
Enviado por Delfim Peixoto em 20/03/2016
Código do texto: T5579385
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