"Auto"biográfico
Sou protagonista na era da canalhice,
Mas não assumo, chamo democracia;
Assim direi outra vez o que eu já disse,
Cada dia fazemos ser nova, a mesmice,
Afinal, o mesmo está vivendo outro dia...
O poder, dele eu sempre vou no encalço,
Ganhamos, bisamos, repetimos, de novo;
Finjo dobrar, humilde qual folhas do salso,
Mas, protesto contra mim sempre é falso,
Sou quem decide quem é o genuíno povo...
Se, não dissesse ninguém a isso saberia,
A verdade dos fatos há quem lhe resista;
Mas, perverto ao meu gosto à luz do dia,
Cem, tratados a mortadela são maioria,
Cem mil espontâneos, apenas golpistas...
Me disfarço por trás das urnas, ou, toga,
A galera para, ante uma roupagem bonita;
Cambio regras ao interesse de quem joga,
Bem sabemos que a ditadura é uma droga,
Isso, quando não é minha gente, que dita...
O falso a fraude, se, a meu favor tudo pode,
Meu gado marcado sempre mugirá por mim;
dou um reles gemido, e alguém presto acode,
adestrei toda uma turba desse jeito pramode,
eles pensarem que sou seu provedor de capim...
Camuflo o nanismo moral arrotando grandeza,
Mas, pego com a boca na botija recolho garras;
finjo de vítima, e um milhão faz a minha defesa,
eles pensam que sem mim faltará pão na mesa,
Maravilhoso poder, possuem as minhas amarras...
Coerência, sobre ela um dia alguma coisa escutei,
Dizendo: não se pode colher uvas, em abrolhos;
mas, eu fingi ser produtor das passas que roubei,
em terra de cegos, dizem, ter um olho é ser rei,
então, construí meu reino, apenas furando olhos...
Agora, na República de Curitiba surgiu um doutor,
Que cura cegueira, o desgraçado muito atrapalha;
Sempre posei de prudente, engenhoso construtor,
Mas agora está passando efeito do coletivo torpor,
E todos verão que minha cabana era feita de palha...