O HOMEM ERA O LOBO

Naquela noite eu caminhava pela estação

Quando uma moça desavisada eu vi passar

Ela caminhava radiante, mas eu via o medo em seu olhar

Algo como desconfiança e excessiva preocupação

O homem era o lobo em seu coração

Ela agarrou sua pasta e encolheu os ombros

O medo era vívido, me encarava como monstro

E eu sentia um leve desconforto em olhar

Mas quando ela se sentou, não pude deixar de notar

Ao seu lado um outro homem resolveu sentar

Eram quase onze horas da noite quando eu subi no trem

Ela ficou lá com um outro alguém

Mais perigoso do que aparentava,

Aquele homem tocou sua perna

Enquanto sussurrava...

As portas se fecharam em uma breve decepção

Quando estava partindo eu tive a impressão

De que ela finalmente me olhou nos olhos com um ar

Repleto de medo e desilusão

Mas fui embora para sempre naquela noite de verão...

Até hoje não me esqueço do noticiário da manhã seguinte

O corpo da jovem foi achado despido no lixo

Morto friamente com apenas vinte e dois anos de idade

Ninguém conhecia o assassino na cidade

Exceto eu.

Quando fechei meus olhos alguém morreu...

Fui a última pessoa que poderia tê-la salvo naquela noite

Eu deixei ela morrer, como seria diferente?

Sendo o lobo conivente eu me abstive de dizer

Eu matei a moça quando deixei de interceder.

Rosa de Almeida
Enviado por Rosa de Almeida em 10/03/2016
Código do texto: T5570033
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