Posso Ver
Eu vejo sangue nas palavras
Gritadas pelos mortos indigentes.
Ouço a arma que não trava
A assassinar minha gente.
Sinto tudo que me entala
Num choro rouco e consciente.
Torno o sofrer em palavras
Tentando maquiar quem sente.
Eu vejo corpos dispostos
Em calçadas crescentes.
Ouço os choros impostos
Na boca da minha gente.
Eu vejo um homem maltratado,
Amordaçado feito em paisagem.
Vejo outros de olhos atados
Ignorando-o naquela paragem.
Eu vejo o que contemplo,
Vejo e ouço o sofrimento.
Vejo que o rico pro pobre
É um para cada cento.
E que desde sempre o que mais sofre,
É o que luta pelo sustento.