Ao Deus dará

" Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com mancha, já com forças roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo: os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam. "
(Padre Antônio
Vieira, Sermões) 

Um cantador de feira me disse assim:

Entregues aos urubus;
enquanto mosquitos proliferam...
Cabras chafurdam no óleo;
Porcos na lama; 
Sempre foi assim
E Assim será?

Quem responderá pela  geração de  bebês infectados;
Do eterno saque, do butim?

Enquanto que os  sarcófagos estão em cima da carniça - o dinheiro público,  bicando-se uns aos outros;
Quem nos salvará da lama que destrói o Rio Doce e enlameia o cenário nacional;
Ou dos dutos enferrujados da Petrobrás por onde escorre o dinheiro vilipendiado para alimentar esquemas de toda espécie;
Quem nos salvará o  Dalai-lama ou o Padim Ciço? 
Em que pátria estamos? Não temos salvação!
Estou farto dos heróis sem caráter - Abaixo os Macunaímas!
Os cabras -safado!

Em meio tantos crucifixos pregados nas paredes das repartições ditas do povo e onde reina maquinações diabólicas - a gente é crucificada;

Mas não somos uma pátria de cristãos? Nos pergunta o sacristão;
E não é por isso que reina a hipocrisia? Me disse a puta da esquina;
dizem até que um  crucifixo foi roubado do Palácio do Planalto - será que também  foi expropriado em nome da causa - vai pro acervo pessoal da Santidade? 

Cruz credo! nem um crucifixo tão fixo na parede escapa;

Entregues a urubus  e a mercê de um mosquito;
Será que somos proscritos?

[Mais do que identidade nacional, precisamos de seriedade nacional - nos diz o diplomata e historiador,  Evaldo  Cabral de Melo Neto;]


A nossa metáfora é a ladroagem oficial correndo solta,
Salve-nos Padre Vieira da chacina e do assalto a todos, salve-nos do ladrão pé-de-chinelo e do rufião da coisa pública;
Nos liberte das elites que não querem  nos ilustrar e das que querem nos aliciar com esmolas!


Nossa tragédia  o linchamento - um corpo aberto estropiado crucificado  a um poste na periferia de uma cidade,  num ritual sanguinário,  numa expiação onde o sangue jorra querendo que alguém lhe dê sentido;
Nossa outra tragédia um transeunte morto num assalto mais um na sangrenta estatistica de milhões de pessoas  assassinados a cada ano;


Nossa outra tragédia os urubus-rei  esfolando as tripas da viúva;
Quem nos libertará das  Saúvas? 
Do foro privilegiado,  dos Urubus engalanados!
Da impunidade;
Da fila dos desempregados;
Dos quase pobres que retornam aos montes para a horda dos miseráveis;



E de tragédia em tragédia assistimos a um eterno bichorocar de lesmas pedintes em buracos esconsos dando  uns nervos de morte;
Enquanto Deus nos entrega à própria sorte;

 
Labareda
Enviado por Labareda em 05/02/2016
Reeditado em 15/03/2017
Código do texto: T5534410
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