A fé do caipira

A fé do descalço

Que estende roupa ao sol, que capina os campos,

que planta mandioca, café e cana.

E do seu labor tira o sustento da família de sete filhos,

seu orgulho e talvez sua razão.

Que tem as mãos secas e feridas

Trabalhando com gosto de fel,

Mas que sabe sorrir ao fim do dia, mesmo sem saber

Ou até prever seu destino.

Sentado em uma cadeira de balanço que produziu

Fumando um cigarro de palha e declamando poesias do

Amor de Deus, que depois do roçado difícil

Fez florescer e germinar o alimento.

O olhar do humilde

É um olhar de amor e de pouco querer

Ele procura no horizonte e pode

Ver Deus, é quando a íris de seus olhos dilatam

A lágrima escorre, a fé cresce e ele desliza as

Mãos em seu velho escapulário, cheio de nós e beija.

Agradecendo a Deus a vida, a pouca saúde e a família.

O girassol de seus olhos guarda a paciência e o sofrimento.

Que não perde a força apesar do pesar.

E quando dói o passado funesto de sua geração

Ele se apega à companhia de sua viola

E chora, grita e canta entre palavras arrastadas,

Timbres melancólicos, arranhados, tristezas de sua infância.

Toma o café amargo e quase frio para se deitar

Pede a Nossa Senhora que proteja sua vida

Que faça chover, que alimente seu boi e cavalo

para o trabalho do outro dia.

Pede pela amada, que possa comprar

pano para um novo vestido e que o barro esteja bom para reformar

sua casinha de entrelaço de taipa.

E assim o caipira dorme,

com uma fé construída

Não do barro com que lida

Mas com o aço da esperança

O bronze da alegria

Com a prata da humildade

E o ouro da sabedoria.

Que desconhece o valor