Gritaram-me Macaca
Um dia gritaram-me macaca,
Fazendo "piadas" com meus traços,
No outro gritaram-me bombril,
Se referindo ao meu cabelo crespo,
E a cada dia inventam falas e atitudes racistas travestidos de "brincadeiras".
Nesta brincadeira, já são mais de 400 anos de exploração, inferiorização e massacre,
Vi na TV personagens esteriotipados,
Engoli no "horário nobre" o negro sendo bandido, empregado, sempre favelado e pobre,
nunca vi uma personagem de sucesso, nunca me mostraram negros intelectuais.
Preto só é protagonista de algo,
Quando sabe chutar uma bola com maestria nos campeonatos de futebol,
As pretas, quando sambam e rebolam seu corpo Mula(to) no carnaval.
Ou então quando aparecem metralhados na página polícial,
Vítimas de ataques terroristas executados pelos capitães do mato fardados,
Cães raivosos do Estado.
E essa sociedade ainda me chama de vitimista, fala que negro também é racista,
Foram meus antepassados que foram açoitados no pelourinho, não o seu
Foram os meus que atravessou o atlântico
No porão sujo de um navio sequestrados de suas terras.
Foram meus ancestrais
Que foram obrigados a dar sete
Voltas na árvore do esquecimento para esquecer sua identidade.
Foi o meu povo preto que foi subjugado, inferiorizado,
Foi meu povo preto que lutou e ainda luta por libertação.
É meu povo preto que morreu e continua morrendo nas mãos burguesas dos brancos racistas,
É meu povo que morre, que sofre
Que é massacrado diáriamente
Simplismente por carregar o negrume da noite na pele.
(Pollyana Almië)