O gato e os ratos
As loterias deveriam humilhar os videntes,
e os hospitais, igualmente, aos charlatães;
mas, velho bom senso está mui doente,
se mantém o Simplício, eterno paciente,
das febres cobiças, dos filhos das mães...
Véritas capitula fraca, diante das trevas,
e as trevas dos otários, são mais escuras;
tanto que caem para a patranha primeva,
a vantagem, pois, que o tal vigarista leva,
é discernir uvas da tolice quando maduras...
E, lança sementes alhures como da Santa,
fez certo Semeador, na parábola de Jesus;
as que caem em solo duro Sophia espanta,
sobre pedras, e espinhos se perde tanta,
e a boa terra se esconde temendo à Luz...
As palavras falsas são as iscas para patos,
ouvidos tolos hospedeiros dos parasitas;
travestidos de bons, saem os maus tratos,
e quem acostumou ter sombras por fatos,
luz desmancha os prazeres, até lhes irrita...
Uns temem o conflito, a polêmica, o dano,
aí acomodam, preferem manter os pratos;
porém, rasgo as mangas e mostro o pano,
porque, de nada vale ter um belo bichano,
se, pela “paz” se fizer amiguinho dos ratos...