DO LADO DE FORA DO PORTÃO
Há!, Quanta saudade que eu tinha,
Da minha mãe, quando eu via a sua
Muito irritada, de chinelo na mão
Brava lhe tirava da enxurrada
Pra dentro de casa te levava
Depois da chinelada, uma roupa seca,
E um prato de sopa quente lhe dava
Há!, que saudade que eu tinha, da minha
Quando sua mãe com dor no coração
Me dava as sobras do seu pão
Quanto inveja eu sentia
Quando seu pai, austero e intransigente
Não lhe dava presente,
Como castigo, porque a boa nota
No seu boletim estava ausente
Que tristeza eu sentia, do lado de fora do portão
Quando eu ouvia, com seus pais brigar
Por coisas supérfluas que não podiam lhe dar
Porque eu do lado de fora do seu portão
Sempre sofro sozinho, os horrores da solidão
Porque na rua onde eu moro
Ninguém tem compaixão, criança abandonada
Tem vida de cão.
Maurí Cândido
Jales, 16.04.01