Extintor
É sempre inocente que o sonho começa,
Já fingiu ser morada justa, o hoje, tapera;
Assim que a bênção da urna o desimpeça,
O corrupto potencial abandona a quimera,
Não que mude, a vida faz com que apareça,
E assoma enfim, o que, no fundo, já era...
Acreditam nele, muitos de sorte infeliz,
Pior, o defendem após a visão ordinária;
Mascara os fatos com o que mentindo diz,
Outros são febris quando ele tem malária;
Entrou prometendo mudar todo um país,
mudou deveras, sua gorda conta bancária...
Plantou cumplicidades em cada remessa,
Previu seu inverno em plena primavera;
Agora, a mudança no seu clima começa,
Mexe alguns pauzinhos, soltando a fera;
Os que prostituem justiça têm com pressa,
Vendo o tal “cliente VIP” na sala de espera...
Pode acabar festivo o ambiente de velório,
A justiça é cega, se o postulante é grandão;
Nossas expectativas arderão no crematório,
Eles dominam o fogo, mestres na ignição;
No carro da política deveria ser obrigatório,
Um potente, eficaz, extintor de corrupção...
Bem poderia eu estar filmando n’outro set,
Digo, há tantos motes melhores para poesia;
E fico versando o lixo, “urbe et orbe” via NET,
Como se desse pra forjar beleza de porcaria;
mero artesão ordinário, com suas garrafas pet,
Urdindo arranjos comuns de embalagem vazia...