CANTAR
Não importa o que faça
Desde que faça cantando.
Nos porões negreiros
A sobrevivência
Ritmado ao som compassado
Do tambor.
O giro certo
O suor, o cheiro ocre, ardido,
Descompasso,
Uma força perdida:
Exaurida.
O murmúrio
O lamento surdo
E sofrido.
Não foge a época contemporânea
Em aventuras
De poder sem escrúpulos.
-Necessidade do presente,
-Moradia no futuro,
A escravidão pária.
Subserviência escravagista
De feudos ancestrais,
Capitanias.
Um beco sem saída!
Uma pérola partida,
Dois poderes dependentes
No jogo de interesses,
Na mistura das tigelas.
A nau errante
Sem vento e braços
Para o porto seguro.
Nimbada, pardacenta,
Travessia.
Belo Horizonte, 21 de setembro de 2015. Atalir Ávila de Souza