A Criança Perdida na Rua

A Criança Perdida na Rua

O político viu dinheiro.

Planejou investimento.

O padre, ovelha desgarrada,

Pensou em Deus e rezou.

O professor viu aluno,

Pensou no futuro e protestou.

O motorista, bandido,

Pensou na polícia.

O terno lustroso viu vagabundo,

Pensou em trabalho.

O pedófilo, oportunidade,

Excitou-se.

O traficante viu consumidor,

Pensou em negócio.

O reacionário, ladrão

Pensou na morte.

O advogado viu lei,

Culpou o Estado.

O poeta, poema

Inspirou-se.

A criança não viu

O protesto do professor,

A reza do padre,

O dinheiro do político,

A excitação do pedófilo,

O interesse do traficante,

O desejo de morte do reacionário,

A criança perdida na rua,

Tão pouco se sentiu poema.

Os olhos eram as vitrines das confeitarias,

As narinas os cheiros dos temperos,

Os ouvidos os talheres do meio dia,

A língua, talvez uma prece,

As mãos, o alívio do estômago vazio.

Alheia aos pensamentos que inspirou,

Esperou pacientemente,

O resto dos excessos!!!

MAReis
Enviado por MAReis em 15/09/2015
Reeditado em 15/09/2015
Código do texto: T5382634
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