CARTA de um FALIDO
Agora, posso dizer com certeza
que conheço a sarjeta.
Sou dos príncipes o que senta
com mendigos dividindo a lata,
o equilíbrio da rosa
não cabe nos dedos,
e se a minha estrada
é seguir o trilho do trem
sem saber aonde vou
levo nas costas a vantagem
de abandonar as obrigações
nos bancos das praças.
Sou dos facínoras
o que guarda o punhal,
só no silêncio embarco
o contrabando de uma vida
sem auge, sou do que você
foge, meu pedido
e minha história ameaçam
a segurança do teu portão.
Redobre a guarda,
o eco dos meus passos derruba
além das estátuas dos teus mortos
o segredo do cofre.
Não me venha com anjos e demônios,
ao lixo com as crenças e a religião,
não me conhece, retiro
da cartola amassada a pistola
dos assaltos sangrentos,
não vim até este estágio
para triunfar ou morrer,
quero ver-te arrancar a alma
queimada pelos vícios e pela usura
e jogá-la no fogo da sombra do perdido,
pois de ti interessa apenas a confissão
de nefasto, o que fazer,
suicídio ou igreja, pouco importa,
do covarde apenas o ridículo se espera.