GÊNESE

Uma serpente desliza pelo chão,

Se enrosca nos galhos secos,

Se arrasta, se esconde

Nas folhas mortas do outono.

Com medo,

Olha para um lado e outro.

Sente sede!

Sente fome!

Sente medo

Da gélida solidão

A que foi destinada.

E um inimigo vem próximo,

Com ares de mocinho

Caçando bandido.

“_Pena que não é noite de sombras!

Ah, se pego quem inventou essa estória

De que meu arrastar é meu castigo divino!

Ah, se eu tivesse punhos e pernas...”

Meditava o ofídio em desatino.

O cansaço lhe veio

E seu bailado de odalisca

Tornou-se moroso e foi acuada,

Pisada, massacrada

Trucidada pelo inimigo.

Seu corpo flácido jazia,

Enquanto o caçador gargalha

Seu sissio heróico e retumbante.

“Deus! Perdoa-o, pois ele não sabe

Que nunca vi essa eva

E nem o tal de adão!”

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 31/08/2015
Código do texto: T5366102
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