GÊNESE
Uma serpente desliza pelo chão,
Se enrosca nos galhos secos,
Se arrasta, se esconde
Nas folhas mortas do outono.
Com medo,
Olha para um lado e outro.
Sente sede!
Sente fome!
Sente medo
Da gélida solidão
A que foi destinada.
E um inimigo vem próximo,
Com ares de mocinho
Caçando bandido.
“_Pena que não é noite de sombras!
Ah, se pego quem inventou essa estória
De que meu arrastar é meu castigo divino!
Ah, se eu tivesse punhos e pernas...”
Meditava o ofídio em desatino.
O cansaço lhe veio
E seu bailado de odalisca
Tornou-se moroso e foi acuada,
Pisada, massacrada
Trucidada pelo inimigo.
Seu corpo flácido jazia,
Enquanto o caçador gargalha
Seu sissio heróico e retumbante.
“Deus! Perdoa-o, pois ele não sabe
Que nunca vi essa eva
E nem o tal de adão!”